A degradação das Instituições






A DEGRADAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES 

- Um punho de camisa mais levantado e zás: vencendo a hesitação, um mosquito ferrou. Imprudentemente arregaçou mais e mais a manga e uma nuvem deles, “corajosamente”, atacou em voo picado. Não ficou em bom estado.
Chegou “ainda” a ser o “Supremo Magistrado da Nação”; depois, sucessivamente, “Sua Excelência o Senhor Presidente da República”,  “o Senhor Presidente da República”, “o Presidente da República”, “o Senhor Professor Cavaco Silva”, “o Professor  Cavaco Silva”, “ Cavaco Silva”, ”o Cavaco Silva”, “o Cavaco”, não se ficando as gentes por aqui, não só nas redes sociais ,com o insulto  impune a superar a crítica…
 O tempo acalmará os fervores e equilibrará os juízos.
O actual Presidente terá também de gerir a perspectiva da PRESIDÊNCIA assim criada.
- Há quatro anos, o então Ministro da Defesa, que decerto ”não foi à tropa”, e a Associação de Oficiais das Forças Armadas, através da sua Direcção e conhecedora da terminologia aplicável, entraram em desentendimento à volta de uma afirmação do Senhor Ministro e da palavra  “submissão”. Das FORÇAS ARMADAS. Ao poder político, já se vê.
Ilustres comentadores vieram à liça criticando a Direcção da AOFA, os seus elementos, os representados e, já agora, toda a “corporação”. Aqui d´El Rei que os militares não aceitavam a “submissão”, que a AOFA estava “ao serviço de interesses partidários” e convidando “os que não sentem a vocação” a “mudarem de carreira”.
Surpreendentemente face a alguns intervenientes, o que esteve em causa foram sensibilidades não conhecidas por quem as devia conhecer e uma questão etimológica que o Dicionário de Huaiss, por exemplo, esclareceria em profundidade quem nisso tivesse dúvidas e interesse : SUBMISSÃO e SUBORDINAÇÃO têm origem, significados e sentidos algo diferentes, vindo mesmo este último das “calendas” latinas.
A segunda palavra é muito bem conhecida no sector. E sabe-se que é bem aceite!

SUBMISSÃO
Acto ou efeito de submeter(-se) 1 condição em que se é obrigado a obedecer; sujeição, subordinação <s.às leis> 2 disposição para obedecer, para aceitar uma situação de subordinação; docilidade, obediência, subalternidade <s.canina> 3 pej. humildade afectada; subserviência, servilismo <dirigiu-se ao chefe com toda a s.>…..ETIM lat.submissio,onis….

SUBMISSO
Que se submeteu 1 p.us em posição baixa; inferior 2 que denota ou que envolve submissão <atitude s.> 3 disposto à obediência; dócil <animal s.> 4 que serve sem contestar ou reclamar; servil, subserviente, respeitoso <servidor s.> 5 que aceita de bom grado ser comandado e estar em posição inferior; dócil, humilde <sempre fora uma mulher s. e carinhosa>  . ETIM lat. Submissus,a,um “posto debaixo; moderado, sem brilho (t.retórica); baixo, rastejante, servil; humilde, submisso”;…ver tb sinonímia de  resignado . ANT desobediente, insubmisso, revoltado; ver tb antonímia de resignado …..

SUBORDINAÇÃO
Acto ou efeito de subordinar(-se) 1 ordem estabelecida entre as pessoas e segundo a qual umas dependem das outras, das quais recebem ordens ou incumbências; dependência de uma(s) pessoa(s) em relação a outra(s) <s. aos pais, aos superiores> 2(1650) acto ou efeito de obedecer; obediência, disciplina <s.militar> 3 acto ou efeito de colocar(-se) em condição inferior; submissão <s. do material ao espiritual>…..ETIM lat.medv.subordinatio,onis….

SUBORDINADO
Que se subordinou 1 que é hierarquicamente inferior e dependente de alguém ou de alguma coisa; <classe s> 2 que, em relação a outro, tem apenas papel secundário <o corpo deve ser s. ao espírito>…. Adj. s..m.  que ou aquele que trabalha sob as ordens de outrem; subalterno <oficial s.> < o s. transmitiu a ordem do superior>….ETIM part.de subordinar….

.- O dirigente do Sindicato do Ministério Público (MP), perguntado por jornalista de uma estação televisiva acerca do Processo “Marquês”, emite juízo claro, negativo e condenatório sobre o principal visado nesse Processo, que ainda não tinha sido objecto de acusação formal pelo próprio MP, muito menos julgado. A Senhora Procuradora Geral da República fez saber da instauração de um inquérito/processo disciplinar ao Senhor Procurador. Como habitual, necessariamente até às últimas consequências. Que eu ainda hoje (14/03/16) não conheço. E creio que ninguém conhece.
O mesmo Senhor, em rápida entrevista também a uma estação de TV, defende, e bem, a independência dos órgãos judiciais, cuidando no entanto de acrescentar, na oportunidade comunicacional, a associação dessa independência com o nível de vencimentos. Admirei-me que ninguém lhe tivesse perguntado quanto vale a sua independência!
Tenho a JUSTIÇA como o pilar essencial da saúde da vida social e económica em que é preciso confiar. Responsabilidade acrescida para os membros dos seus órgãos. Não me parece que tenha ficado dignificada. Como o não fica com os arquivamentos por prescrição. Como o não fica com as enormes dilações que se repetem. Como o não fica com uma “garganta funda” da sua área que, há longo tempo e pelos vistos sem receios, alimenta um jornal diário nos seus bel-prazeres e procura conseguida de clientela.
.- Um dia o dirigente máximo do Sindicato dos Professores convocou uma manifestação para a Av 5 de Outubro. Acorreram professores de variados pontos do País, vizinhos, amigos e alguns fizeram-se acompanhar por crianças das suas escolas. Muitos cartazes e “palavras de ordem”. Talvez também alguns farnéis para confraternização no Parque Eduardo VII.
As crianças tiveram seguramente das mais exuberantes e lamentavelmente produtivas  aulas de formação que os seus docentes lhes terão proporcionado, decerto  para obter uma boa avaliação.
Ficar-lhes-á indelevelmente registado na memória, excitada pelos berros, como se insulta um membro de um GOVERNO do seu País .

.- Um cabotino culto e azedo associou a expressão ao Governo por ser este Governo; um político inteligente e habilidoso, criador de saundebaites, conhecedor dos meandros da “informação” e como ela pode desinformar e  colar-se ao seu objecto, adoptou-a com esmero e exercitou-se mais uma vez. Pelos vistos, se tivessem registado a patente teriam obtido uma apreciável riqueza.
De facto, diversos fazedores de opinião e de política acharam muita graça. E que lhes achariam muita graça se difundissem a “mensagem”. Com alguma surpresa, vejo um jornal respeitável dar-lhe abrangente e entusiástica guarida nas várias versões : a da distracção inocente (?), a do “diminutivo carinhoso”, a da intenção política depreciativa e a da insultante intenção depreciativa. Afora outros  diversos, incluindo dirigentes políticos na escavação perigosa do próprio descrédito e  da sepultura da função.
A questão não estará na tal expressão se se considerar, mesmo que a custo, incluída na liberdade de opinião e de expressão. Está sim na confusão intencional ou displicente entre “O Governo do País” e “UM Governo do País”. É que o primeiro é “aquele”, expresso, (se minimamente fosse aceitável em meio cívico com respeitabilidade), e o segundo é a INSTITUIÇÃO ! E penso que isto é grave.
É manifesta e dramática a erosão e degradação quer de um quer de outra. Perturba quem pense na respeitabilidade necessária e indispensável na circunstância, quanto mais no futuro !...
(“Vocês sabem do que estou a falar”- Octávio Machado) 
EM QUALQUER DOS CASOS A RESPONSABILIDADE É DE TODOS, A COMEÇAR NOS PRÓPRIOS AGENTES.

14/4/2016  MCB